sexta-feira, 11 de março de 2011

Início


Mudanças intensas na História referente a métodos, temas e objetos de pesquisa datam dos anos 1960 (Le Goff e Pierre Nora). A utilização de fontes diversificadas como a literatura de ficção está presente nos debates em torno da questão do caráter científico da história, desde os anos 1970 (Stones, Le Goff, White, Chartier, etc). Após os debates sobre a relação da literatura com a história, hoje se tornou quase consenso entre os pesquisadores o uso de fontes diversas dos tradicionais documentos oficiais, bem como gerou questões sobre a análise inclusive das fontes tradicionais. Ou seja, se a literatura e o cinema são possíveis e promissoras fontes para a história, qualquer objeto também o pode ser, daí a necessidade de se explicar em qualquer trabalho acadêmico não somente quais foram as fontes utilizadas, mas o tipo de uso que se fez delas.
Jorge Amado e a UESC são filhos da mesma região. O primeiro teve a vida marcada pela preocupação no desenvolvimento do Brasil e de seu povo, tendo partido da realidade da Bahia para suas reflexões. A UESC como universidade pública do sul baiano tem esta mesma preocupação, colaborando para o desenvolvimento nacional com produções acadêmicas de alta qualidade, atingindo os educadores e profissionais dos mais diversos setores, com as produções humanistas, científicas e tecnológicas que desenvolve e promove.
Quanto a Jorge amado, sua produção literária tratou diversos temas abordados pela História, o que a enriquece como fonte de pesquisa. A temática racial é uma marca nas produções amadianas e continua no cerne das discussões acadêmicas, especialmente com a valorização da história e da cultura afro-brasileira, cujo corolário foi a legislação educacional de 2003. Se a questão da negritude brasileira, e dos tipos afro-brasileiros caricaturados por Amado chama a atenção do público é porque essa questão ainda é presente como tema nacional e, assim, como tema nas Ciências Humanas.
Como filho da região produtora de cacau, Amado sempre se referiu a esta cultura e a esta região, com sua economia, culturas, problemas sociais e política. Passado o tempo áureo da produção cacau mais do que nunca a história da riqueza passada de um povo e uma região, registrada nos romances, faz parte da memória regional, evocada idilicamente e como projeção para um futuro. Seu  legado crítico deve ser sempre pesquisado. Os temas abordados por Jorge Amado são temas da pesquisa histórica, mas sua importância para a realização de um evento acadêmico ultrapassa essas questões.  Amado é um dos autores brasileiros mais traduzidos para outros idiomas, o que o faz um representante dos intelectuais que se debruçou sobre as questões da nacionalidade brasileira.
E o que ele escreveu ainda é lido dentro e fora do país. Essa internacionalidade de sua produção transforma-a em algo que deve ser investigado, criticado, analisado, tratado por nós historiadores, pesquisadores, literatos, cientistas brasileiros.
Ao longo do tempo os trabalhos de Jorge Amado produzidos em formato de texto literário foram transformados em outras linguagens: viraram teatro, cinema e televisão. A obra amadiana está dispersa e recriada em peças de teatro, filmes, novelas e mini-séries televisivas. A recepção dessa obra, cuja importância formal e temática já é consagrada pela academia, é ampliada e popularizada em uma dimensão que merece ser percebida e investigada. Essas múltiplas linguagens é um desafio para os pesquisadores atentos às demandas atuais por novos formatos de produção de conhecimento.
O evento proposto é uma ação que visa também promover aos professores da Educação Básica, sobretudo aos professores-estudantes vinculados ao Plano de Nacional de Formação de Professores - PARFOR dos cursos de 1ª Licenciatura em História, Geografia, Letras e Ciências Sociais o contado com discussões, perspectivas e experiências que contribuam para suas percepções da realidade regional, levando-os a uma reflexão crítica dos problemas, demandas e soluções encontradas na região Sul Baiana.
Considera-se oportuna a proposição deste evento como um momento em que os professores da Educação Básica possam refinar suas reflexões sobre a questão relativas à interface entre história e literatura, tendo como pano de fundo os preparativos para comemoração do centenário de nascimento de Jorge Amado, escritor que retratou como nenhum outro as realidades da região cacaueira. Ademais, esse evento será uma oportunidade para os professores-estudantes dos cursos da PARFOR, iniciarem o processo de composição das 200 horas de Atividade Acadêmico-Curricular, previstas em seus respectivos currículos.
Dessa forma, as comemorações pelo aniversário de nascimento de Jorge Amado promovem, desde já, momentos oportunos para se discutir sua obra, e a partir dela discutir-se uma série de outros temas decorrentes, como propõe o XXII Ciclo de Estudos Históricos História e Diversidade: reflexões sobre a obra de Jorge Amado.